A história mostra-nos o mais largo horizonte da humanidade, oferece-nos os conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, indica-nos os critérios para avaliação do presente, liberta-nos da inconsciente ligação à nossa época e ensina-nos a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas realizações imperceptíveis.(...)A experiência do presente compreende-se melhor reflectida no espelho da história. Karl Jaspers

domingo, 20 de março de 2011

Globalização

A reflexão acerca da palavra globalização não é uma tarefa simples como muitos são levados a pensar. Afinal, o que é ser globalizado? A resposta a esta pergunta dada pelo senso comum (entendendo-se senso comum como algo que normalmente aceitamos sem questionar), afinal, “todo mundo” sabe que - estar globalizado é basicamente ter acesso a internet, mas será que isto da conta de explicar realmente todos os processos que envolvem na prática a globalização?
Pensar em globalização como uma onda vinda da internet por si só já faz com que a análise da questão seja iniciada de forma errada, podemos considerar, a grosso modo, que o mundo viveu pelo menos três ondas de globalização. A primeira onda iniciou-se no Renascimento, com as descobertas marítimas e a Revolução Mercantil, uma segunda onda teve inicio com a Revolução Industrial do século XVIII, vivida até recentemente quando o início da terceira onda assolou o mundo com a recente Revolução Tecnológica. É importante destacar que um fator que diferencia cada uma das ondas de globalização é a velocidade com que se propagaram, assim, a cada onda, a velocidade de circulação e amplitude foi sendo paulatinamente acelerada.
Mas nosso objetivo é tratar exatamente esta onda de globalização promovida pela acelerada evolução pela qual o mundo passa, principalmente a partir do início dos anos 90, com a explosão da internet, processo que acelerou a comunicação e encurtou definitivamente as distâncias, o destaque em distâncias é exatamente porque não se pode definir fronteiras neste novo cenário mundial, talvez o fator de maior destaque desta onda de globalização seja exatamente a “explosão das fronteiras”, sejam elas de qualquer modalidade, culturais, sócio-econômicas, lingüísticas, artísticas, sistemas produtivos, gerencias e mercadológicos, permitindo a descentralização da produção de bens e da prestação de serviços, o que ampliou consideravelmente a criação de empresas multinacionais de gigantescas proporções, com atuação em diversas partes do mundo, um excelente exemplo foi publicado em 02 de outubro de 1994 pela folha de São Paulo que reproduziu o seguinte trecho narrado por Sally Tisdale: “Moro em Portland, Oregon, onde a Nike tem sua sede empresarial (...) Precisando de tênis novos, comecei a procurar (...) Pegava um tênis atrás do outro e lia: “Made in China”. “Made in Korea”. “Made in Indonésia”. “Made in Thailand”. Comecei a pedir tênis fabricados nos EUA aos balconistas. Os poucos que não ficaram confusos me disseram que não existem tênis fabricados nos EUA. Telefonei para a Nike e falei com o responsável pelo atendimento aos clientes, ele me disse que a empresa ainda está manufaturando na Indonésia e em vários países da região. Liguei para a sede de LA Gear em Santa Mônica. Eu disse: “Os tênis que vocês produzem são fabricados nos EUA? “Fabricados aqui?” perguntou, espantada a pessoa que me atendeu. Ela me disse que seus tênis são produzidos no Brasil e na Ásia.”
Fiz questão de reproduzir este trecho porque ele nos dá uma idéia bem clara destes novos tempos do mundo como uma aldeia globalizada, ao menos na questão das grandes corporações industriais, não existem barreiras capazes de confinar produção industrial, no mundo industrial não existem fronteiras.
Outra questão necessária é analisar se a velocidade com que a globalização se processa é igual para todos. Se dividirmos os processos globalizatórios em três diferentes níveis – sócio/econômico sistema internacional e processo civilizatório – veremos que o processo sócio-econômico avança em velocidade muito mais rápida que o sistema internacional – as sociedades vivem indiscutivelmente processos e períodos históricos diferentes - ou os processos civilizatórios, o que equivale dizer que determinadas regiões serão “devastadas” por transformações tecnológicas que nem sequer desejam.
Neste contexto de expansão, os grandes agentes do processo de globalização são os países desenvolvidos, as empresas multinacionais e os organismos internacionais. No entanto, é importante saber que a globalização não é um processo orquestrado por nenhum país ou grupo econômico, mas sim, foi resultado da revolução tecnológica em curso na terceira onda de globalização. Cujos maiores beneficiados são aqueles que já haviam largado na frente em termos financeiros e tecnológicos.
Até aqui a impressão que temos é de que quando falamos em globalização estamos apenas pensando em tecnologia, recursos financeiros e grandes processos industriais, mas não é bem assim, a globalização estende-se também a áreas como a cultura. Muitas produções cinematográficas são lançadas antecipadamente fora dos países onde foram produzidas. Peças teatrais são produzidas não mais pensando em um público restrito, existe uma linguagem mundial em franca evolução. Existe um embate entre culturas locais versus culturas globalizadas, aqui a internet faz sua parte, mas não devemos esquecer que meios de transporte mais rápidos, com maior capacidade de carga, facilita as turnês mundiais de grandes espetáculos, a cultura deixa de ser local sendo invadida por toda espécie de novidades e grandes produções mundiais, será então o fim das culturas locais? Sem dúvida costumes excessivamente regionalizados agora terão uma maior dificuldade para sobreviver, mas, cultura é viva, adapta-se a cada dia e de uma forma ou de outra permanecerá existindo.
No geral a globalização é vista por alguns cientistas políticos como o movimento sob o qual se constrói o processo de ampliação da hegemonia econômica, política e cultural ocidental sobre as demais nações. Ou ainda que a globalização é a reinvenção do processo expansionista americano no período pós guerra-fria (esta reinvenção tardaria quase 10 anos para ganhar forma) com a imposição (forçosa ou não) dos modelos políticos (democracia), ideológico (liberalismo, hedonismo e individualismo) e econômico (abertura de mercados e livre competição).
Entendo globalização como um amplo processo de aproximação, aberturas, inclusões e exclusões. Não acredito em vantagens unilaterais direcionadas, se pensasse assim estaria negando vida inteligente a algumas sociedades, mas aceito maiores benefícios a alguns, mesmo porque acredito que querendo ou não todas as sociedades estarão de certa forma globalizadas, mais cedo ou mais tarde.
Em minha tentativa de definir globalização, uma expressão se sobrepõe sobre qualquer outra, “explosão de fronteiras”, mesmo correndo o risco de ter sido radical, acredito ser impossível resistir a esta terceira onda globalizante, seus recursos para expandir-se são ilimitados. Quando as fronteiras caem a onda de invasão é tão avassaladora quanto uma tsunami, e somente a custa de muita estratégia os Estados Nacionais não sucumbirão a um Estado Mundial.

Por: Celso de Almeida.