A história mostra-nos o mais largo horizonte da humanidade, oferece-nos os conteúdos tradicionais que fundamentam a nossa vida, indica-nos os critérios para avaliação do presente, liberta-nos da inconsciente ligação à nossa época e ensina-nos a ver o homem nas suas mais elevadas possibilidades e nas suas realizações imperceptíveis.(...)A experiência do presente compreende-se melhor reflectida no espelho da história. Karl Jaspers

quarta-feira, 29 de outubro de 2008

Novas tecnologias na educação



Para analisarmos a importância da entrada de novas tecnologias na educação, deve-se ter em mente que o avançar destas tecnologias sempre ocorreu na história do ser humano, visando sempre propiciar um aumento de suas possibilidades de sobrevivência. A evolução das tecnologias utilizadas na educação é nítida e irreversível, trazendo imensa contribuição positiva ao ensino, contudo, não se deve deixar de ressaltar que nem tudo é benéfico nesta “invasão” da educação. Nesses tempos de sociedade globalizada, e informação diversificada existe um processo de adequação que precisa ser feito, e sua adaptação precisa ser realizada etapa a etapa para possibilitar que todos os envolvidos neste processo educacional possam compreender o avanço que se apresenta e preparar-se para a convivência e boa utilização dos meios que lhe são ofertados a cada dia. Professores, escolas, alunos e a sociedade necessitam estar prontos para esta nova realidade. Todas as tecnologias aplicadas, tanto na educação quanto em qualquer outra parte do cotidiano humano um dia já foi motivo de surpresa, no entanto com o passar do tempo e seu uso diário deixam de causar estranheza, não sendo mais encaradas como artefatos tecnológicos.
São tantas inovações tecnológicas introduzidas na educação que já podemos dizer que são novas tecnologias para uma nova educação. Como todas as inovações elas contribuem com aspectos negativos e outros positivos. Dentre os aspectos positivos destacados por Vani Moreira, Texto: “em foco: educação e tecnologias” podemos citar: aumento das possibilidades de comunicação e de informação entre as pessoas; desterritorialização do conhecimento e a possibilidade do surgimento de uma sociedade da informação; já nos aspectos negativos segundo a autora, destacamos: o fato de que essas novas tecnologias ainda não estarem disponíveis a todos, a necessidade da formação de docentes aptos a interagir com estas novas tecnologias e a inadequação da estrutura curricular, fato que ainda não permite a plena utilização das novas técnicas.



A relação professor e novas tecnologias



As novas tecnologias não vieram para substituir os professores, mas modificam algumas de suas funções; o professor não é mais o único detentor/repassador de conhecimentos e informações, na era da sociedade da informação, esta tarefa está fortemente ligada aos bancos de dados, livros, vídeos. O professor deve estar preparado, tendo os bancos acadêmicos importância singular nesta preparação, para ser agora o estimulador da curiosidade do aluno por querer conhecer; pesquisar; buscar informação mais relevante. É importante que o professor assuma também o papel coordenador da apresentação dos resultados obtidos nas pesquisas dos alunos. Alguns dos dados apresentados contextualizam os resultados, os adapta a realidade dos alunos, transforma a informação em conhecimento, e o conhecimento em saber; em vida; em sabedoria. Aos professores não restam muitas saídas, segundo Burgo Jung em seu livro: Preparing teachers for the 21st century, “o futuro é determinado pelas escolhas que fazemos no presente. Os professores têm a opção de se recostar e deixar as mudanças invadirem seu mundo e só então, reagir; ou de participar ativamente na moldagem do futuro.”
Estas novas tecnologias vieram para ficar, portanto, não existe possibilidade de que exista em um futuro bem próximo, um bom profissional da educação que não seja capaz de interagir com todas estas novas possibilidades tecnológicas, é necessário adaptação dos cursos de formação de professores a estas novidades, os currículos escolares por sua vez não podem continuar atrelados a tecnologias passadas. Ao governo e aos empresários da educação, cabe a obrigação de fazer chegar a cada sala de aula as novas tecnologias que possibilitem a igualdade do direito de acesso a todos, contribuindo para a democratização cada vez maior da informação, e dando ao professor a possibilidade de se reposicionar como o mediador desta busca pela informação.
Não adianta a luta “romântica” pela “velha” forma de educação, não resta dúvida que tecnologias como: vídeos; TV, cd; DVD; data show (meio de comunicações audiovisuais), dentre outras, vieram para ficar, mas, sem dúvida o que realmente veio para “sacudir” a educação é o uso do microcomputador e o acesso à internet, cada dia mais democratizada. Esta é uma realidade em algumas escolas, mas também uma tendência de médio e longo prazo em toda a rede de ensino. O professor precisa rever suas posições e ampliar a utilização destes recursos, isto é sem dúvida, “falar a língua” dos alunos, e saber utilizar estes recursos é a forma de aproximação que resta aos mestres, para atingirem suas metas educacionais.
O aluno nem precisa ir à escola para buscar informações, no entanto, informação nem sempre significa conhecimento, e é aí que entra o professor, é ele quem deve ajudar a interpretá-las, relacioná-las, hierarquizá-las, ele é quem deve ajudá-los a questionar, a procurar novos ângulos, a relativizar as informações e a tirar conclusões.
A facilidade de obter as informações está levando a uma acomodação no encontro dos primeiros resultados, a uma leitura superficial, é onde se torna importante o papel do educador, não como apenas repetidor de informações prontas, mas como um articulador de aprendizagens e um avaliador de resultados.



A escola e as novas tecnologias da educação



Manter a escola tal como está, é insustentável, é preciso incentivar as mudanças, flexibilizar aulas e currículos, gerar aulas diferentes, estimular a criatividade. A rotina e a monotonia esterilizam a motivação dos alunos, são muitas as novas tecnologias a disposição para aprender e ensinar. No entanto, a simples introdução dos meios tecnológicos na escola, pode ser uma forma enganosa de ocultar seus problemas, sob a bandeira da modernização tecnológica. O desafio é como inserir na escola ao mesmo tempo: experiências culturais heterogêneas, o entorno das novas tecnologias da informação e da comunicação. A internet, o celular, a multimídia, estão revolucionando nossas vidas, no entanto na educação sempre colocamos dificuldades para mudança, sempre buscamos justificativas para a inércia, ou pior, mudamos os equipamentos, mas não os procedimentos. A escola precisa observar o que está acontecendo nos meios de comunicação e trazê-los para a sala de aula, discutindo com os alunos, ajudando-os para que percebam os aspectos negativos e positivos das abordagens de cada assunto. As tecnologias ajudam a desenvolver habilidades criativas, e o professor deve adequar cada habilidade a um determinado momento e a cada situação de aprendizagem.
A educação é um processo de construção da consciência crítica, e as novas tecnologias são pontes entre a sala de aula e o mundo, permitem mostrar várias formas de captar um mesmo objeto, representando-o sob ângulos diferentes, são diferentes formas de repensar a realidade, mas, todas elas combinadas, integradas, possibilitam o desenvolvimento de todas as potencialidades do educador, dos diferentes tipos de inteligências, habilidades e atitudes dos alunos. A escola é um espaço de inovação, de experimentação saudável de novos caminhos. Não devemos romper bruscamente com o passado, mas programar mudanças e supervisioná-las com equilíbrio e maturidade.

Celso de Almeida.

*Foto: Novas tecnologias

Montezuma e os signos


Este texto, Montezuma e os signos, aborda a importância dos símbolos para os povos do novo continente. Os Astecas que possuíam uma visão cíclica do tempo utilizavam estes símbolos para justificar acontecimentos do passado, do presente e para previsão do futuro. Destaca a diferente forma de comunicação entre índios e espanhóis, diferença essa que leva a um sentimento de superioridade espanhol, mas cabe ressaltar que não existe inferioridade dos índios, nem no plano lingüístico, nem simbólico; como destaca o texto analisado, na época da chegada de Colombo, foram os índios que primeiro aprenderam a língua dos espanhóis e não o oposto.



As formas de adivinhação e interpretação de mensagens


Os índios dedicavam grande parte de seu tempo a interpretação das mensagens, todas relacionadas as diversas formas de adivinhação existente. A primeira delas é a adivinhação cíclica realizada pelo sacerdote local, tendo como base religiosa o calendário religioso de treze meses que indicava um caráter próprio de cada dia, levando o indivíduo a um futuro prospero ou nefasto de acordo com as predestinações do dia de seu nascimento, em acordo com o livro dos destinos e o calendário. A segunda forma de adivinhação era a pontual, que usualmente tomava a forma de presságios, qualquer acontecimento que saía do comum afastando-se da ordem pré-estabelecida, era interpretado como prenúncio de outro acontecimento, geralmente nefasto, estaria por acontecer, dando uma indicação clara de que nada acontece por acaso. Portanto, no cotidiano, assim como no excepcional “acreditavam em mil augúrios e presságios” (motolinia, II, 8), existiam ainda adivinhos profissionais que recorriam às técnicas habituais: pela água, grãos de milho, fios de algodão. Grandes chefes Astecas visitavam regularmente o adivinho antes da tomada de qualquer decisão importante. A história dos Astecas é contada em suas próprias crônicas, é feita de realizações de profecias anteriores, como se um acontecimento não pudesse ocorrer se não tivesse sido previamente anunciado. Só poderia tornar-se ato àquilo que foi anteriormente verbo. Estavam convencidos de que todas as espécies de previsão do futuro sempre se realizavam, e somente em casos excepcionais tentavam resistir à sorte que lhes era anunciada pelos videntes, mas via de regra tinham certeza de que todas se realizariam, viam o mundo como superdeterminado, tudo era possível e, portanto tudo era previsto, a palavra chave para os povos ameríndios era “ordem”. A sociedade determinava a sorte do indivíduo, este não representava em si uma totalidade social, é unicamente elemento constitutivo de outra totalidade, a coletividade. O que os Astecas mais prezavam não era a opinião individual, ou a iniciativa individual, o que importava era o social. A própria importância da família estava abaixo de importância do grupo social. Outro exemplo que demonstra bem a importância que os Astecas davam ao grupo e a seguir as normas já determinadas, é o do rei Nezahualpill, que manda executar a própria filha, por esta ter infringido a regra ao permitir que um jovem lhe dirigisse a palavra, este ao ser questionado sobre a excussão da filha responde: “que não devia infringir a lei a favor de ninguém, pois se o fizesse daria mau exemplo aos outros senhores e ficaria desordenado”. O benefício obtido da submissão a regra do grupo pesa mais que a perda de um indivíduo, por isso podemos observar os sacrificados aceitarem sua sorte, se não com alegria, pelo menos sem desespero; o mesmo acontece no campo de batalha, seu sangue serve para manter viva a sociedade. O futuro do indivíduo é determinado pelo passado coletivo, o indivíduo não constrói seu futuro, este se revela; daí o papel do calendário, dos presságios, dos augúrios.


As formas de comunicação

Forçando o sentido da palavra comunicação, pode se dizer que existem duas importantes formas de comunicação: na primeira a comunicação entre os homens e a segunda a comunicação entre o homem e o mundo. Constatamos que a comunicação cultivada pelos índios era a comunicação entre o homem e o mundo, e aos espanhóis importava principalmente a comunicação entre os homens. Habituados com a comunicação entre os homens, por imaginar o mundo como não sendo um sujeito sendo capaz de manter uma forma de diálogo; e ao perceber esta visão dos índios os espanhóis investem-se de um sentimento de superioridade ante o povo Asteca para quem a comunicação com o mundo desempenha papel de fundamental importância, por que interpreta o divino, o natural, o social, através de indícios e presságios.


A chegada dos espanhóis, os primeiros contatos e o medo do Rei


Durante a invasão espanhola, Montezuma nunca deixa de enviar espiões ao campo adversário, e sempre está ciente dos fatos: assim fica sabendo da chegada das primeiras expedições, ao passo que os espanhóis ainda ignoram completamente a existência dele. Os Astecas possuíam um sistema de “correio” extremamente bem organizado, realizado através de corredores (treinados desde a infância) que se revezavam, assim desenhavam seus mapas e mensagens em papel e podiam transmiti-los à distância. Durante a primeira fase da conquista, quando os espanhóis ainda estão perto da costa, a mais importante mensagem que Montezuma envia é a de que não deseja nenhum tipo de intercâmbio de mensagens. Ao receber as mensagens vindas da costa Montezuma não se alegra, muito ao contrário, na visão dos astecas: “Montezuma baixou a cabeça e sem dizer uma palavra, a mão sobre a boca, ficou um longo momento como (se estivesse) morto, ou mudo, pois não pode falar nem responder”. (Duran, III, 69). Esta paralisia não enfraquece unicamente a coleta de informação; já simboliza a derrota visto que o soberano Asteca, e antes de qualquer coisa, um mestre da palavra (ato social por excelência) e que a renuncia a linguagem é o reconhecimento de uma derrota. Os mensageiros traziam a Montezuma diariamente notícias dos movimentos dos invasores, e este, foi acometido de enorme medo, principalmente pelas informações pedidas pelos invasores a respeito de sua pessoa. Montezuma fica totalmente aturdido, sem saber que atitude tomar, segundo Duran, a reação inicial de Montezuma é querer se esconder no fundo de uma gruta. De acordo com os conquistadores, as primeiras mensagens de Montezuma afirmam que ele está disposto a dar-lhes qualquer coisa em seu reino, com uma condição: que renunciem ao desejo de vir vê-lo. Não devemos esquecer o pensamento divinizado em relação aos espanhóis (aos menos nos primeiros momentos da chegada). Sem saber que atitude tomar, Montezuma revela-se extremamente confuso, primeiro pune com a prisão os mensageiros que lhe trazem notícias dos espanhóis, depois, buscando auxílio dos presságios, no entanto, vendo que as previsões não lhe eram favoráveis, manda para a cadeia velhos e velhas, os sacerdotes temendo por seu próprio destino decidem nada mais revelar ao rei, e terminam também sendo punidos com a destruição de suas casas, morte de suas mulheres e filhos. Sendo então compreensível o rareamento de informações recebidas sobre o comportamento dos espanhóis ou para a interpretação dos presságios. Os inimigos de Montezuma agora não eram outros povos da meso-américa, e desta vez apesar de recolher informações não era tão fácil saber que atitude tomar, devido à enorme diferença no comportamento dos espanhóis. Todas as ações dos espanhóis pegam os índios de surpresa, como se fossem eles que conduzissem uma guerra regular e os espanhóis os atormentassem com movimentos de guerrilha. As atitudes de receio dos índios diante dos espanhóis começam pela enumeração dos presságios que anunciavam a vinda de homens estranhos para tomar o reino. Várias previsões, em diferentes épocas, feitas por adivinhos dos povos da meso-américa até o Peru davam sempre conta, com impressionante sincronismo, da chegada de homens estranhos para a tomada do reino. Os presságios são extremamente semelhantes em diversos pontos do continente americano, um cometa, raios, um incêndio, homens bicéfalos, pessoas falando durante o transe. Mas, tal coincidência de concordância entre os presságios e o que realmente ocorreu, leva-nos a acreditar que possam ter sido “inventados” posteriormente. Assim procedendo à solução para os acontecimentos estava encontrada, e esta solução é tão apropriada que ao ouvir o relato, todos pensam lembrar-se de que os presságios tinham realmente aparecido antes da conquista; enquanto isso, as profecias exercem um efeito paralisante sobre os índios que tem conhecimento delas. O modo como ocorreu o contato entre espanhóis e índios e responsável pela imagem deformada que estes terão dos espanhóis durante os primeiros contatos e, principalmente, pela idéia de que eles são deuses; idéia que exerce um fator paralisante e este fato só pode ser explicado por uma incapacidade de perceber a identidade humana dos outros, isto é, admiti-los ao mesmo tempo, como iguais e como diferentes. Esta capacidade de identificar os espanhóis como seres iguais faz com que os astecas tenham ocorrido naquilo que foi provavelmente o maior dos erros, enquanto os espanhóis na impossibilidade de identificá-los como seres humanos os tipificam como animais, os Astecas diante deste mesmo quadro de impossibilidade classificarão os estrangeiros como Deuses, erro que não tardou muito para que fosse notado, porém, este erro de avaliação durará tempo suficiente para que a batalha entre espanhóis e índios já estivesse decidida, e a América submetida a Europa.



A importância da palavra para o povo Asteca


Assim como outros povos, os Astecas também se identificavam e identificavam os outros povos através do domínio da língua, restando para aqueles que não eram entendidos o tratamento de pior espécie. A oratória era dignificada, e por isto os pais sempre preocupavam-se com o desenvolvimento de seus filhos nesta arte, os dignitários reais eram escolhidos principalmente por suas qualidades oratórias. A associação entre o poder e o domínio da língua e claramente marcada entre os Astecas. O próprio chefe de estado é chamado Platoani (aquele que possui a palavra), e o que designa o sábio é; aquele que sabe pintar e interpretar os manuscritos (o possuidor de tinta vermelha e tinta negra). O próprio Montezuma é tido como um orador nato. Quando falava atraía, com suas frases refinadas e seduzia com seu raciocínio profundo. Para destacarmos o poder da oratória Asteca podemos citar Vasco de Quiroga, que 15 anos após o fim do império Asteca, conta: “cada um deles nos agradeceu por sua vez, com tal eloqüência que era como se tivesse estudado a arte da oratória durante toda a vida.” A oralidade é em uma sociedade sem escrita é revestida de vital importância, cabe a ela a materialização da memória social, isto é, o conjunto de leis, normas e valores que devem ser transmitidos de uma geração a outra, para garantir a identidade da coletividade. A ausência da escrita é um elemento importante. Os desenhos estilizados, um grau inferior a escrita; mas registram a experiência, e não a linguagem. As três grandes civilizações ameríndias não se situavam em um mesmo grau de desenvolvimento da escrita, que variava de: totalmente ausente até rudimentos de uma escrita fonética. Mas, o importante a se destacar é que uma escrita ausente não pode assumir a função de suporte da memória, função que ficou destinada a palavra.


Religião, conceito de tempo e marcação

A religião, seja qual for seu conteúdo, é um discurso transmitido pela tradição, e o que importa é a garantia de uma identidade cultural. E exatamente por isso não é colocada em questão, a opinião pessoal não tem valor, não há como racionalizar uma tradição. Os espanhóis tentaram sem sucesso buscar razões para sua escolha pela religião cristã, e este insucesso de racionalização faz criar uma ruptura entre a fé e a razão. Sobre os indígenas podemos destacar a admiração de muitos estudiosos por um estado que dava atenção à educação das crianças: ricos e pobres são escolarizados, na escola religiosa ou na escola militar. Entre os índios a submissão do presente ao passado é uma característica marcante, o antigo tem ascendência sobre o novo. Nesse mundo voltado para o passado, dominado pela tradição, surgem os conquistadores estrangeiros: um acontecimento absolutamente imprevisível, surpreendente, único, tanto assim que se fez necessário presságios recolhidos posteriormente como forma de justificar o ocorrido. O tempo indígena é baseado em ciclos enquanto o calendário espanhol/europeu é linear, seguindo uma sucessão sem repetições. Para os índios haviam dois calendários, um religioso, de 260 dias e um astronômico de 365 dias, baseando-se estes calendários na condição de que a cada vinte ou cinqüenta e dois anos este ciclo se repete. Para demonstrar a idéia do tempo mostrada graficamente, para os Maias e astecas, é a roda e para nós a flecha. Os livros, Maias e Astecas, justificados por adivinhos e profetas, utilizando-se dessa concepção de tempo, permitem prever o futuro; já que o tempo se repete, e o conhecimento do passado leva ao conhecimento do presente e do futuro, pois que seriam em linhas gerais, a mesma coisa. Não são unicamente as seqüências passadas que se parecem, as futuras também. Por isso, os acontecimentos são contados ou no passado, em forma de crônica, ou no futuro, sob a forma de profecias.


Montezuma e Cortez, conquistado e conquistador


Montezuma estava atrelado a um mundo completamente ritualístico, com uma marcação de tempo em ciclos, onde acontecimentos do passado repetiam-se no futuro, daí no momento até então único, a chegada dos espanhóis, resulta a incapacidade de Montezuma em produzir mensagens apropriadas e eficazes. Grandes mestres na fala ritual, os índios se saem muito mal na improvisação, e esta é precisamente, a situação da conquista a invasão espanhola é um fato novo, jamais ocorrido, e exigiria improvisação dos índios a esta nova situação, no entanto, esta não é uma atitude a ser tomada com facilidade pelos índios. Cortez, no entanto, pratica a arte da improvisação diariamente, vê-se forçado a adaptar-se a novas situações constantemente, e tem plena consciência destas necessidades que pratica. Em vão Montezuma procura por alguma explicação no passado que o possibilitasse agir no presente, não encontra, e como improvisação não é um ato normal entre os índios, todas as suas mensagens enviadas aos espanhóis impressionam pela ineficácia. Para convencê-los a deixar suas terras Montezuma envia-lhes ouro, mais um erro, não poderia haver mais nada que os convencesse a ficar. Além de Montezuma outros chefes têm atitude semelhante na tentativa de tentar agradar os espanhóis e convencê-los a partir, e para tal, enviam-lhes mulheres, que terminam por servir como um segundo forte motivo para sua permanência, além de que, muitas vezes aliadas aos espanhóis, tornam-se importante armas contra os próprios índios. Em uma atitude de tentativa de desencorajar os espanhóis, os astecas anunciam que todos os prisioneiros espanhóis seriam sacrificados e comidos, esta atitude ao contrário de desencorajá-los, faz com que lutem com maior afinco, afinal agora só existe uma escolha, vencer. Tendo falhado em todas as mensagens enviadas ao invasor, começam a falhar a própria comunicação entre os índios, e pela falha de eficiência de Montezuma, muitos chefes começam a mudar de lado, fator determinante para a vitória espanhola. Outra forte característica dos índios é a total incapacidade em mentir e dissuadir, por isto eram facilmente iludidos pelas inverdades e dissimulações espanholas, detalhe que em um cenário de guerra, muitas vezes vale mais que uma arma. O papel da mulher na sociedade asteca é bem definida, é ela a geradora da vida, portanto, incapaz de tornar-se uma guerreira de função contrária aquela destinada a mulher. A função do guerreiro é a de maior prestígio na sociedade e embora os especialistas da palavra gozassem de grande prestígio, mão atingiam o mesmo status social do guerreiro, tanto assim que o rei deveria combinar estes dois lados, guerreiro e especialista da palavra. A pior das ofensas que se poderia fazer a um homem era chamá-lo de mulher, prova disto é a fala de Cuauhtemoc ao ouvir a fala de Montezuma, que já feito prisioneiro pelos espanhóis, dirige-se ao povo, e mal termina seu discurso, para que Cuauhtemoc diga em voz alta: “que diz esse covarde do Montezuma, essa mulher dos espanhóis, porque é esse o nome que podemos dar a ele, já que se entregou a eles como uma mulher, por medo, deixando-nos com os pés e mãos atados, atraiu sobre nós todos os males.’(tovar, PP.81-2). O que os guerreiros Astecas não previam é que ao menos em sentido figurado, as mulheres ganharam a guerra. Os Astecas não estão acostumados com uma guerra total, feita pelos espanhóis contra eles, uma novidade em sua tradição, para eles a guerra deve acabar num tratado estabelecendo o montante dos tributos pagos pelo perdedor ao vencedor. Neste trecho podemos ver claramente de que forma a guerra era encarada pelos Astecas: “pelo menos no início, os Astecas conduzem uma guerra que está submetida à ritualização e ao cerimonial: o tempo, o lugar, o modo, são previamente decididos, o que é mais harmonioso, porém menos eficaz. Era costume geral em todas as cidades e todas as províncias deixar, nos limites extremos de cada uma, uma larga faixa de terra deserta, inculta, para as guerras.” (Motolinia III, 18). O combate tem hora certa para começar e para acabar. O objetivo do combate não é tanto matar, mas fazer prisioneiros (o que favorece claramente os espanhóis). A batalha começa com um envio de flechas, “se as flechas não ferissem ninguém, e o sangue não corresse, retiravam-se como podiam, pois viam nisso um presságio seguro de que a batalha acabaria mal para eles.” (Motolinia III, “carta de introdução”). Portanto, a análise deste trecho deixa claro que mesmo antes de “ganhar a partida”, os espanhóis já haviam obtido uma vitória decisiva: a que consiste em impor seu próprio tipo de guerra; a superioridade deles já não pode ser mais posta em dúvida.



Os presságios anunciam maus tempos


Em todos os cantos do México maus presságios anunciam os problemas que estavam por vir, quatro anos antes da chegada dos espanhóis, templos queimavam, suas paredes desmoronavam sem que houvesse um motivo justificável, relata-se a passagem de dois cometas. Sacerdotes previam a chegada de homens estranhos, trazendo estranhos animais, sonhos revelavam a destruição da morada dos deuses, fato que efetivamente ocorreu. Esta frase demonstra o quanto sombrias eram as previsões: “não haverá mais templo, nem lares, nenhuma fumaça se erguerá, tudo virará um deserto, pois homens novos chegam a terra.” (Motolinia III, 19). Como o passado domina o presente, o acontecimento novo deve ser projetado no passado, sob a forma de presságio, assim, não se podia contradizer o que já era determinado. Se um acontecimento não havia sido previsto, simplesmente, não se poderia admitir sua existência, assim dava-se muito mais importância aos relatos antigos que aos acontecimentos que se apresentavam. Tal era a necessidade desta ligação que se um novo fato não houvesse sido previsto, “fabricava-se” esta ligação através de presságios. Outra grande dificuldade de oposição aos espanhóis está no fato de serem considerados deuses, dificultando a solução no plano humano. O comportamento dos espanhóis sempre foi incompreensível para os índios. O comportamento indígena era de perplexidade diante dos invasores, presentes dados aos índios eram simplesmente destruídos ou ignorados, esta perplexidade era tanta que em muitas situações os espanhóis não se davam sequer ao trabalho de fazer a guerra: preferiam ao chegar, convocar os dirigentes locais e realizar vários disparos de canhão para o ar: os índios calam de pavor, bastando, portanto, em muitos casos o simples uso simbólico das armas. Neste encontro conflituoso entre espanhóis e ameríndios, quem leva a melhor são os espanhóis, muito mais afeitos a comunicação entre os homens, entretanto, não há só um tipo de comunicação; existe também a necessidade da comunicação do humano com o mundo, mas em um momento de conflito existe grande necessidade de improvisação, e isto era um fato impossível de ser entendido pelos índios, que confiam seus destinos aos presságios, onde aquilo que não tivesse previsto, não poderia ocorrer. A vitória dos espanhóis, portanto, é facilmente compreendida. Neste confronto entre Europa e América, apesar de aparência de superioridade de um dos lados, traduzidos por sua temporal vitória, podemos dizer que não há vencedores nem vencidos, a vitória traz em si o início da derrota, não apenas de um dos lados, mas de ambos.
Celso de Almeida.
*Foto: Montezuma e Cortez